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NO INTERIOR DO MUNDO AO AVESSO: ESCOLA PIRAJAENSE SABIÁ, PROFA. LIDIANA JUSTO

 


Na cidade de Pirajá, lá no interior do mundo ao avesso, havia uma escola chamada “Escola Pirajaense Sabiá”, conta-se que era muito bonita, com uma ampla estrutura física, quadra de esporte, biblioteca e sala de cinema. Os professores tinham orgulho de seus alunos, procuravam dar o melhor para que eles se sentissem motivados nos estudos.

Os alunos, por sua vez, correspondiam, não faltavam às aulas, respeitavam os professores, prestavam atenção nas explicações, faziam perguntas quando não compreendiam o assunto e participavam com muito entusiasmo dos eventos que a escola promovia. Para tudo funcionar naquele ambiente era preciso que os professores, estudantes, diretores, secretários, merendeiras (os), vigilantes, pais e/ou responsáveis dessem às mãos em prol da qualidade da educação. Afinal, todos possuíam o sábio entendimento de que, para construir um futuro de sucesso, a educação deveria ser prioridade, devendo ser levada a sério. Mas, certo dia, tudo isso mudou e não foi para melhor.

Alguns, mais supersticiosos, diziam que o motivo teria sido uma grande ventania que levara para a cidade de Pirajá dores e males. Estranhamente, contavam os moradores, esta ventania não destruíra a estrutura física dos imóveis, ela destruíra a educação, desfizera os sentimentos de solidariedade, amor, respeito e comunhão entre os moradores da cidade. E tudo isso acabou se refletindo no dia a dia das pessoas.

Elas começaram a brigar sem nenhum motivo, gritar histericamente umas com as outras, ninguém mais pronunciava “bom dia”, “com licença”, “por favor” e muito menos diziam: “posso ajudar”. Os filhos não respeitavam os pais, os idosos, foram desprezados pelos mais novos que não os buscavam mais para pedir aconselhamentos sobre a vida. No bairro, as crianças começaram a disputar os jogos de futebol com violência, as torcidas incentivavam o ódio e aplaudiam fervorosas quando jogadores do time oponente se machucavam.

Como podemos ver, as coisas já não eram mais as mesmas, a cidade que no passado era conhecida pela sua beleza e educação dos moradores, não existia mais. Teria sido a ventania turbulenta? Os seres humanos foram transformados em seres desumanizados, verdadeiros Zumbis. Ao que parece, só os professores e demais funcionários da escola não foram hipnotizados pela tal ventania.

A escola “Sabiá”, querida por todos da comunidade, passou a sofrer com o efeito da falta de gentileza das pessoas, os alunos não queriam mais estudar, viviam brigando entre si, não assistiam aulas com motivação, não respeitavam os funcionários da escola, jogavam lixo no chão, pichavam as cadeiras, mesas e paredes. Assustadoramente eles passaram a rejeitar os livros, não queriam ler, jogavam os livros no chão, desorganizavam a biblioteca por pura diversão em ver o caos e a sujeira. Certo dia, um deles assim falou na aula: — Não gosto de ler, detesto livros!. No que a professora Zuzu respondeu: — Querido Chiquinho, um ser humano que não cultiva o hábito de leitura, mal vê, mal fala, mal escreve e mal ler. Não cultive a ignorância, o conhecimento pode te proporcionar uma nova visão sobre a vida.

Era isso, uma sombra de ignorância pairava na cidade de Pirajá, muitos estudantes começaram a não querer estudar, passaram a ficar em casa pendurados nas redes sociais. Eles usavam descontroladamente o Instagram, Facebook, Tik Tok, Whatsapp, bem como passavam a madrugada presos em partidas de jogos On line. Estavam hipnotizados, escravos de suas vontades, não controlavam o uso dessas ferramentas, passaram a desenvolver ansiedade, depressão e diversos transtornos psíquicos. Estava explicado o porquê de não conseguirem se concentrar na leitura de um livro, o uso descontrolado das redes sociais estava causando déficit de concentração, prejudicando a capacidade de leitura.

O que seria do futuro dessas crianças e adolescentes? Já que não valorizavam os estudos, eles estavam correndo o risco de não conseguirem empregos dignos, teriam que se sujeitar a receber um salário miserável, estariam propensos ao uso de álcool, drogas, crimes e sofreriam com a falta de educação que eles mesmos recusaram. Muitos estavam celebrando a ignorância e, consequentemente, o próprio fracasso.

Os professores e funcionários trabalhavam frustrados, todos adoeceram emocionalmente e fisicamente, de forma que não puderam ir mais à escola. Isso mesmo, a escola “Sabiá” ficou sem estes profissionais, os alunos ficaram entregues à própria sorte. Chiquinho, o aluno que não gostava de ler, despertou do sono da ignorância e chorou com tristeza lembrando-se das palavras da professora que não estava mais lá, pois adoecera.  Obstinado, não queria ser mais uma pessoa sem perspectiva de futuro, passou a devorar todos os livros da biblioteca e pesquisar sobre como poderia ajudar os seus colegas a despertarem do sono da ignorância.

Assim, resolveu organizar sozinho a biblioteca da escola, passou também a escrever frases motivadoras em cada ambiente da instituição, a fim de que seus colegas lessem e se inspirassem. Entrou em contato com livrarias de outros estados explicando o que havia acontecido na cidade e pediu livros sobre “esperança, educação e futuro” para doar aos seus amigos. Ajudou Chiquinho a falta de energia por quatro dias na cidade, ele percebeu que todos pararam de manusear seus aparelhos celulares, passando a se enxergarem melhor, indo às praças e até tendo bons momentos de lazer. Foi quando ele teve a ideia de que para tirar as pessoas do estado de hipnose, seria interessante todos ficarem pelo menos um mês sem internet, assim, elas iam ler os livros que as livrarias doaram e, quem sabe, tudo voltaria a ser como antes. Assim ele fez.

Sem internet, todos passaram a conversar entre si, irem para frente de suas casas brincar, os livros passaram a ser lidos em grupos familiares. De repente, mães, pais, tios, avós e netos passaram a conversar sobre a história que haviam lido e suas lições de vida. Frases motivacionais inspiradas no livro que haviam lido passaram a ser colocadas na frente das casas, nas praças, becos, vendinhas e nas escolas. A esperança nascera novamente nos corações dos cidadãos de Pirajá.

A escola “Sabiá” estava em festa, todos os funcionários estavam bem de saúde, as aulas estavam voltando e os alunos eram mais que bem-vindos. Bons ventos sopraram na cidadezinha, diziam os moradores mais antigos, a professora Zuzu, já recuperada, pediu a Chiquinho que ele falasse a grande lição de sua vida, prontamente ele discursou: — O conhecimento liberta o indivíduo, a leitura abre a nossa mente, nossa imaginação é cultivada com boas histórias, o nosso vocabulário é ampliado. Hoje, eu vejo melhor, falo bem, escrevo como um habilidoso escritor e leio perfeitamente porque decidi ser um leitor de livros. Posso dizer que tenho esperança de um futuro brilhante, pois estou plantando sementes para colher no amanhã, estudar vale a pena”, olhou para a professora Zuzu e, agradecido, abraçou-a.

Na escola “Sabiá” que fica lá no interior do mundo ao avesso, todos os estudantes têm uma meta — ler pelo menos cinco livros anualmente e falar aos colegas a respeito do que aprendeu com as leituras dos mesmos. Chiquinho é, atualmente, psicólogo e palestrante internacional.


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