Na cidade de Pirajá, lá
no interior do mundo ao avesso, havia uma escola chamada “Escola Pirajaense
Sabiá”, conta-se que era muito bonita, com uma ampla estrutura física, quadra
de esporte, biblioteca e sala de cinema. Os professores tinham orgulho de seus
alunos, procuravam dar o melhor para que eles se sentissem motivados nos
estudos.
Os alunos, por sua vez,
correspondiam, não faltavam às aulas, respeitavam os professores, prestavam
atenção nas explicações, faziam perguntas quando não compreendiam o assunto e
participavam com muito entusiasmo dos eventos que a escola promovia. Para tudo
funcionar naquele ambiente era preciso que os professores, estudantes,
diretores, secretários, merendeiras (os), vigilantes, pais e/ou responsáveis
dessem às mãos em prol da qualidade da educação. Afinal, todos possuíam o sábio
entendimento de que, para construir um futuro de sucesso, a educação deveria
ser prioridade, devendo ser levada a sério. Mas, certo dia, tudo isso mudou e
não foi para melhor.
Alguns, mais
supersticiosos, diziam que o motivo teria sido uma grande ventania que levara
para a cidade de Pirajá dores e males. Estranhamente, contavam os moradores,
esta ventania não destruíra a estrutura física dos imóveis, ela destruíra a
educação, desfizera os sentimentos de solidariedade, amor, respeito e comunhão
entre os moradores da cidade. E tudo isso acabou se refletindo no dia a dia das
pessoas.
Elas começaram a brigar
sem nenhum motivo, gritar histericamente umas com as outras, ninguém mais
pronunciava “bom dia”, “com licença”, “por favor” e muito menos diziam: “posso
ajudar”. Os filhos não respeitavam os pais, os idosos, foram desprezados pelos
mais novos que não os buscavam mais para pedir aconselhamentos sobre a vida. No
bairro, as crianças começaram a disputar os jogos de futebol com violência, as
torcidas incentivavam o ódio e aplaudiam fervorosas quando jogadores do time
oponente se machucavam.
Como podemos ver, as
coisas já não eram mais as mesmas, a cidade que no passado era conhecida pela
sua beleza e educação dos moradores, não existia mais. Teria sido a ventania
turbulenta? Os seres humanos foram transformados em seres desumanizados,
verdadeiros Zumbis. Ao que parece, só os professores e demais funcionários da
escola não foram hipnotizados pela tal ventania.
A escola “Sabiá”,
querida por todos da comunidade, passou a sofrer com o efeito da falta de
gentileza das pessoas, os alunos não queriam mais estudar, viviam brigando
entre si, não assistiam aulas com motivação, não respeitavam os funcionários da
escola, jogavam lixo no chão, pichavam as cadeiras, mesas e paredes. Assustadoramente
eles passaram a rejeitar os livros, não queriam ler, jogavam os livros no chão,
desorganizavam a biblioteca por pura diversão em ver o caos e a sujeira. Certo
dia, um deles assim falou na aula: — Não gosto de ler, detesto livros!. No que
a professora Zuzu respondeu: — Querido Chiquinho, um ser humano que não cultiva
o hábito de leitura, mal vê, mal fala, mal escreve e mal ler. Não cultive a
ignorância, o conhecimento pode te proporcionar uma nova visão sobre a vida.
Era isso, uma sombra de
ignorância pairava na cidade de Pirajá, muitos estudantes começaram a não
querer estudar, passaram a ficar em casa pendurados nas redes sociais. Eles
usavam descontroladamente o Instagram,
Facebook, Tik Tok, Whatsapp, bem
como passavam a madrugada presos em partidas de jogos On line. Estavam hipnotizados, escravos de suas vontades, não
controlavam o uso dessas ferramentas, passaram a desenvolver ansiedade,
depressão e diversos transtornos psíquicos. Estava explicado o porquê de não
conseguirem se concentrar na leitura de um livro, o uso descontrolado das redes
sociais estava causando déficit de
concentração, prejudicando a capacidade de leitura.
O que seria do futuro
dessas crianças e adolescentes? Já que não valorizavam os estudos, eles estavam
correndo o risco de não conseguirem empregos dignos, teriam que se sujeitar a
receber um salário miserável, estariam propensos ao uso de álcool, drogas,
crimes e sofreriam com a falta de educação que eles mesmos recusaram. Muitos
estavam celebrando a ignorância e, consequentemente, o próprio fracasso.
Os professores e
funcionários trabalhavam frustrados, todos adoeceram emocionalmente e
fisicamente, de forma que não puderam ir mais à escola. Isso mesmo, a escola
“Sabiá” ficou sem estes profissionais, os alunos ficaram entregues à própria
sorte. Chiquinho, o aluno que não gostava de ler, despertou do sono da
ignorância e chorou com tristeza lembrando-se das palavras da professora que
não estava mais lá, pois adoecera. Obstinado, não queria ser mais uma pessoa sem
perspectiva de futuro, passou a devorar todos os livros da biblioteca e
pesquisar sobre como poderia ajudar os seus colegas a despertarem do sono da
ignorância.
Assim, resolveu
organizar sozinho a biblioteca da escola, passou também a escrever frases
motivadoras em cada ambiente da instituição, a fim de que seus colegas lessem e
se inspirassem. Entrou em contato com livrarias de outros estados explicando o
que havia acontecido na cidade e pediu livros sobre “esperança, educação e
futuro” para doar aos seus amigos. Ajudou Chiquinho a falta de energia por
quatro dias na cidade, ele percebeu que todos pararam de manusear seus
aparelhos celulares, passando a se enxergarem melhor, indo às praças e até
tendo bons momentos de lazer. Foi quando ele teve a ideia de que para tirar as
pessoas do estado de hipnose, seria interessante todos ficarem pelo menos um
mês sem internet, assim, elas iam ler os livros que as livrarias doaram e, quem
sabe, tudo voltaria a ser como antes. Assim ele fez.
Sem internet, todos
passaram a conversar entre si, irem para frente de suas casas brincar, os
livros passaram a ser lidos em grupos familiares. De repente, mães, pais, tios,
avós e netos passaram a conversar sobre a história que haviam lido e suas
lições de vida. Frases motivacionais inspiradas no livro que haviam lido
passaram a ser colocadas na frente das casas, nas praças, becos, vendinhas e
nas escolas. A esperança nascera novamente nos corações dos cidadãos de Pirajá.
A escola “Sabiá” estava
em festa, todos os funcionários estavam bem de saúde, as aulas estavam voltando
e os alunos eram mais que bem-vindos. Bons ventos sopraram na cidadezinha,
diziam os moradores mais antigos, a professora Zuzu, já recuperada, pediu a Chiquinho
que ele falasse a grande lição de sua vida, prontamente ele discursou: — O
conhecimento liberta o indivíduo, a leitura abre a nossa mente, nossa imaginação
é cultivada com boas histórias, o nosso vocabulário é ampliado. Hoje, eu vejo
melhor, falo bem, escrevo como um habilidoso escritor e leio perfeitamente
porque decidi ser um leitor de livros. Posso dizer que tenho esperança de um
futuro brilhante, pois estou plantando sementes para colher no amanhã, estudar
vale a pena”, olhou para a professora Zuzu e, agradecido, abraçou-a.
Na escola “Sabiá” que
fica lá no interior do mundo ao avesso, todos os estudantes têm uma meta — ler
pelo menos cinco livros anualmente e falar aos colegas a respeito do que
aprendeu com as leituras dos mesmos. Chiquinho é, atualmente, psicólogo e
palestrante internacional.
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