O
livro de autoria de Arlindo Cabocllo (2017), intitulado “O Caranguejo Santo”, narra
a vida de personagens comuns que encontramos em nosso dia a dia, muitas vezes, sem ao menos nos importarmos.
Com
pouco mais de 80 páginas, Arlindo Cabocllo, através de sua formação e
experiência (Professor
da rede Estadual da Paraíba; Bacharel e Licenciado em Geografia (UFPB); Especialista
em Geografia Ambiental Urbana (ESAB); extensões em Prevenção do Uso de Drogas (UNB)
e Educação, Cidadania e Cultura (UEPB)), conduz o leitor numa narrativa
surpreendente.
Tendo
como personagem principal o catador de caranguejo Eurípedes, morador da Várzea
Nova, no município de Santa Rita-PB, que, mesmo com pouca leitura, vivia indagando
o fato de ter nascido pobre e sem oportunidades, questionando o motivo de tanta
poluição no mangue, bem como buscando entender o porquê de as pessoas serem tão
religiosas, ele acabava ficando horas e horas refletindo sobre esses temas,
parecendo estar sempre pronto para uma oportunidade. Além de Eurípedes, outros
personagens se destacaram, são eles: a cadela Pandora; Maria Santa, chamada
carinhosamente de “Santinha”; Bonifácio (amigo com quem Eurípedes compartilhava
suas ideias); Porfírio (assassino do tio); Heliogábalo (cheio de
singularidades); Zequinha boca larga (o político espertalhão) e o cabo Justino
(reputado policial).
O cotidiano citadino, marcado por diálogos permeados por gírias, jogos de dominós e encontros nas praças, assim como menções a prédios, ruas e estradas que não compõem mais a paisagem urbana, como o cinema dos “Irmãos Lumiéri”, outrora, conhecido como ponto de encontro e onde ocorriam as primeiras aventuras amorosas da mocidade, pareceu-nos um dos pontos atrativos da narrativa, como também as denúncias sociais, políticas e ambientais.
Para aqueles que moram na região metropolitana de João Pessoa-PB, é uma oportunidade de poder reviver algumas lembranças de um passado que se apresenta de diversas maneiras, nos gestos, construções e/ou costumes. É possível ainda observar na narrativa, elementos do universo cristão, africano e da mitologia grega que, por vezes, se misturam.
A propósito, o encontro de Eurípedes com o grande caranguejo foi um divisor de águas em sua
vida. A descoberta do “King Krab” no mangue, levou-o a uma ideia mirabolante, a
qual compartilhou com Bonifácio, dizendo: “Esse caranguejo é santo”. Convencendo
o amigo que podiam ganhar dinheiro dizendo que o crustáceo possuía capacidade miraculosa, algo que deu certo, pois levou muitas pessoas religiosas acreditarem no
suposto poder que o caranguejo possuía. A farsa foi interrompida com o sumiço
misterioso do caranguejo. Na ocasião, todos passaram a ser suspeitos e o cabo
Justino foi o responsável por conduzir as investigações e por um ponto final no
mistério.
Ademais,
pode-se ver e sentir o olhar de um autor que valoriza suas origens, defende o
que pensa e narra a historia de tantas pessoas que muitas vezes são
invisibilizadas. Mesmo sendo um livro de rápida leitura, há momentos em que
ficamos confusos no que diz respeito à temporalidade histórica, mas isso não
tira o mérito da obra.
Em vias de conclusão, não poderia deixar de lembrar que na cidade de Bayeux-PB há um mangue na entrada da cidade, e, mais recentemente, foi colocada naquele local uma estátua de um grande caranguejo - O que pensaria Eurípedes dessa grande estátua? Teria vingado a história de que o caranguejo era santo?. De uma coisa temos certeza, todas as vezes que passarmos pela entrada daquela cidade lembraremos com carinho da aventura narrada pelo criativo autor Arlindo Cabocllo no seu livro- “O Caranguejo Santo”.
Fica aqui o convite para a leitura da obra, leiam e deem boas risadas!
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